Até a ação da PF, conselheiros de Bolsonaro minimizavam o risco de prisão
- 12 de fevereiro de 2024
Até a operação da Polícia Federal (PF) da última quinta-feira, 8, conselheiros do ex-presidente Jair Bolsonaro minimizavam o risco de ele ser preso por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Eles alegavam que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já havia declarado o capitão inelegível e, assim, cumprido o principal objetivo do cerco judicial em curso: tirá-lo da próxima corrida presidencial.
Os conselheiros também lembravam que o ex-presidente é extremamente popular, o que funcionaria como um fator inibidor de uma ordem de prisão. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado na nova edição de VEJA mostra que, se a corrida presidencial de 2026 fosse hoje, o presidente Lula teria 36,9% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro alcançaria 33,8%, situação de empate técnico, considerada a margem de erro.
Pessoas próximas do ex-presidente também costumavam argumentar que uma eventual ordem de prisão vitimizaria ainda mais Bolsonaro, acarretando a mobilização de seus apoiadores, o que Lula e o PT gostariam de evitar. Filho mais velho do capitão, o senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, era um dos que minimizavam a possibilidade de o pai ir para a cadeia.
Choque de realidade
Já um outro grupo de conselheiros, minoritário, dizia desde a derrota na eleição de 2022 que Bolsonaro corria sério risco de ser preso em decorrência dos múltiplos inquéritos a que responde no STF. Seria uma questão de tempo — e da descoberta do pretexto ideal para mandá-lo ao cárcere. A mais recente operação da PF deu passos importantes para responsabilizar Bolsonaro pelo que é descrito como uma tentativa de golpe e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Segundo a PF, Bolsonaro tomou conhecimento e determinou mudanças num texto que embasaria juridicamente o golpe, além de conclamar generais e militares de alta patente a pregar contra a segurança das urnas eletrônicas, com o objetivo de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, dizer que teve a reeleição roubada e, a partir daí, anular o resultado e convocar novas eleições. Há digitais do ex-presidente que apontam para uma ordem de prisão no horizonte.
Em entrevista ao site de VEJA após a operação, Bolsonaro negou ter revisado a minuta golpista que teria sido levado a ele por seu ex-assessor Filipe Martins, que foi preso. “Eu não despachava com ele. Nunca vi esse tipo de documento, tampouco assinei algo parecido. Além disso, ninguém dá golpe com documento de papel”, afirmou o ex-presidente.