Record demite diretor de RH acusado de assédio sexual e indiciado pela polícia
- 12 de abril de 2024
Márcio Santos, diretor de Recursos Humanos da Record, foi demitido na quinta-feira (11). Ele estava afastado do trabalho desde que começaram a investigar a denúncia de assédio sexual no final do ano passado. No começo deste mês, ele foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de cometer o crime.
A Comunicação da emissora foi procurada, e a reportagem será atualizada assim que receber resposta aos questionamentos enviados por e-mail e aplicativo de mensagem no início desta tarde.
O jornalista Elian Matte denunciou o diretor de Recursos Humanos da emissora por abuso sexual no ambiente de trabalho em 14 de novembro de 2023. Matte é roteirista do Câmera Record, apresentado por Roberto Cabrini.
Ele relatou que as investidas do chefe começaram com convites particulares em sua sala de reuniões. Na época, descobriu que o profissional recebia fotos dele mesmo, obtidas pelo sistema de câmeras da Record, com mensagens íntimas e elogios ao seu corpo. As investidas do chefe a Matte começaram em 2022 com convites particulares em sua sala de reuniões e evoluíram para ameaças em 2023.
Estava previsto que Márcio Santos continuaria com seu vínculo com a Record durante mais um ano. Mas a condição dependia do andamento das investigações policiais. A emissora, no entanto, optou pelo desligamento nesta semana.
Santos estava afastado de suas funções na emissora e da Igreja Universal do Reino de Deus desde novembro. A investigação do caso foi encaminhada ao Ministério Público de São Paulo no fim de fevereiro, com prazo de distribuição das evidências e depoimentos de 30 dias.
Denúncia à polícia em novembro
O jornalista Elian Matte registrou queixa dizendo que recebia mensagens e fotos de Márcio Santos constantemente, sendo algumas delas com teor sexual e elogios ao seu corpo. O diretor também enviava fotos de Matte para o próprio funcionário. As imagens mostravam partes de seu corpo, como os quadris, que eram elogiados pelo chefe.
“São pedidos insistentes para sair e, apesar das minhas negativas, continuou com conversas onde pergunta o tamanho do meu órgão genital, onde diz que tem ciúme doentio por mim e que precisa de ajuda médica. Em uma das mensagens, pediu para que eu não chegasse perto do carro dele no estacionamento, pois me sequestraria”, contou o jornalista.
O funcionário da Record afirmou que os pedidos insistentes para encontros prejudicaram seu trabalho e sua saúde mental. Com medo de ser demitido, ele cedeu. “Tinha medo de cortá-lo e ser dispensado. Mas tudo piorou quando começou a usar a estrutura da TV para me monitorar”, relatou Matte na boletim de ocorrência.
Matte procurou Antonio Guerreiro, vice-presidente de Jornalismo da Record para revelar o problema. Ele apresentou as trocas de mensagens enviadas por e-mail e WhatsApp. Mesmo após uma reunião com funcionários da alta cúpula da emissora, nada foi resolvido. Sua última atitude foi fazer a denúncia à polícia.
Elian Matte disse ter tido sintomas da síndrome de burnout, distúrbio que causa estresse e esgotamento físico em situações de trabalho desgastante. Ele se consultou com uma especialista de uma empresa que atende a Record e confirmou o diagnóstico. A médica, no entanto, revelou que precisaria alterar o atestado por ter sido ameaçada justamente pelo acusado de assédio.
Casos de assédio na Record
Esse é o terceiro caso de assédio em cinco anos envolvendo funcionários de alto escalão da Record contra profissionais de cargos menores. O jornalista Gerson de Souza encarou acusações de assédio de 12 mulheres colegas de Redação no fim de 2019. Ele foi demitido em outubro de 2020. Souza acabou condenado em abril de 2023 a dois anos e meio pelo crime de importunação sexual.
Já em outubro do ano passado, a âncora Rhiza Castro foi demitida da emissora por acusar Thiago Feitosa, um dos principais executivos do Jornalismo da casa, de assédio sexual. A dispensa da jornalista aconteceu dois dias depois de ela ter levado o caso ao departamento de Recursos Humanos (RH).
Segundo a revista Piauí, a Record foi condenada em primeira instância pela Justiça Trabalhista a indenizar Rhiza por assédio moral e sexual. Feitosa fez um acordo com o MP-SP para evitar um processo judicial e ter sua ficha suja. Ele desembolsou uma multa de R$ 26 mil e se livrou da acusação.