“É um argumento antimanicomial”, diz diretor de filme de “Holocausto Brasileiro”

  • 11 de julho de 2024

O filme “Ninguém Sai Vivo Daqui” chega aos cinemas nesta quinta-feira (11). Apesar de ser uma obra ficcional, o longa retrata a tragédia que ocorreu no Hospital Psiquiátrico de Barbacena, conhecido como Colônia, em Minas Gerais.

“O filme, ao simplesmente mostrar como [a situação era], é sozinho um argumento da luta antimanicomial”, diz o diretor André Ristum à CNN. “É uma história com um conteúdo muito forte, né? Do ponto de vista documental, já existiam coisas, como o próprio documentário da Daniela [Arbex], então já tinha bastante coisa. Do ponto ficcional, não existia nada. Então eu como eu já tenho um percurso histórico de cinema de ficção do que cinema documental, acabei optando por esse caminho.”

“Ninguém Sai Vivo Daqui” é baseado no livro da jornalista Daniela Arbex, lançado em 2013, que retrata as informações sobre os mais de 60 mil mortos dentro do “maior hospício do Brasil”. “O centro recebia diariamente, além de pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos, tímidos e todo tipo de gente considerada fora dos padrões sociais”, descreve a sinopse do livro.

A obra foi eleita a melhor do estilo livro-reportagem pela Associação Paulista de Críticos de Arte e ficou como segunda colocada na mesma categoria do Prêmio Jabuti em 2014.

Neste ano, o documentário “Holocausto Brasileiro” chegou à Netflix. Originalmente lançado em 2016, o longa detalha a rotina das pessoas que foram internadas no hospício, também baseado no livro de Arbex.

“Ao tomar contato com essa história, com todas essas vidas que passaram por essa violência, o que me chamou mais atenção foi a história de mais de 70% das pessoas que eram internadas nessas instituições não tinham nenhum tipo de diagnóstico”, continua o diretor. “Isso me chamou mais atenção porque a medicina e a psiquiatria da época entendiam que não era tortura trancar e maltratar as pessoas. Me chamou muito a atenção isso: os excluídos e indesejados da sociedade que eram enviados sem nenhum tipo de diagnóstico sem qualquer atestado médico e internados às vezes até o resto da vida.”

O filme conta a história de Elisa, interpretada por Fernanda Marques, que é mandada para o Hospital Psiquiátrico de Barbacena após ter engravidado do namorado. Apesar de Elisa ser uma personagem de ficção, a realidade vivida por ela foi a verdade de diversas mulheres durante a década de 1970.

“Sempre foi um dos projetos que eu mais gostei de fazer, é o que eu mais tenho orgulho, porque eu gosto muito de falar de temáticas que façam mudanças no mundo”, conta Fernanda Marques à CNN. “Apesar da história ser muito pesada, o set era muito cheio de amor. A gente tem que dar o que a gente tem de mais dolorido e colocar isso em ação.”

Fernanda Marques como Elisa em “Ninguém Sai Vivo Daqui” / Divulgação/Gullane+

“A gente teve uma preparação delicada, uma preparação bem intensa”, continua. “A gente viveu nesse lugar, comeu, dormiu, trabalhou muito… então acho que isso tudo colaborou para o processo ficar bem mais leve do que essa violência toda [que o filme mostra]”, conclui.

Além de Marques, o elenco também conta com nomes como Andréia HortaAugusto MadeiraRejane Faria e Naruna Costa.

Ao retratar a rotina dos pacientes que sofreram no Hospital Psiquiátrico de Barbacena, André Ristum tomou a decisão de fazer o filme completamente em preto e branco para potencializar as histórias contadas.

“O preto e branco entra com peso narrativo nesse filme”, explica o diretor. “Quando eu estava pensando no filme, eu via imagens só em preto e branco, eu só conseguia enxergar a história em preto e branco. A vida dessas pessoas trancafiadas nesse lugar não tinha cor.”

VITRINE DO CARIRI
Com CNN Brasil.

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