Globo desperdiça 28 anos e entrega autora promissora de mão beijada a Netflix

  • 15 de julho de 2024

Os elogios à Angela Chaves por seu trabalho em Pedaço de Mim obviamente não são os primeiros da sua carreira. A autora já havia surpreendido os críticos quando ainda estava na Globo e foi responsável por mexer na obra do seu então chefe –Silvio de Abreu, diretor de Dramaturgia até 2020. Ela escreveu o remake de Éramos Seis (2019), no qual demonstrou sua habilidade para falar sobre a maternidade.

Angela ficou quase três décadas na líder de audiência até ser dispensada em 2022, em meio à política de reduzir drasticamente os contratos fixos de seu elenco e de seus autores. Livre para o mercado, ela emplacou o primeiro melodrama brasileiro da Netflix –chamado de série por uns, novela por outros.

O sucesso de Pedaço de Mim deixou evidente que a Globo errou feio ao abrir mão de um dos seus principais ativos: as pessoas por trás das histórias. Não à toa, a empresa hoje enfrenta uma das piores crises do seu horário nobre, em que sofre não só com a fuga do público, mas também com duras críticas sobre a qualidade de suas produções.

De um lado, a emissora investiu pesado em seu “padrão Globo de qualidade” e até inaugurou um novo estúdio, o MG4, com tecnologia de ponta, em 2019. Do outro, dispensou sistematicamente uma mão de obra que levou décadas para formar e aprimorar.

Angela é um bom exemplo, já que passou 28 anos por lá e colaborou com produções como Celebridade (2003) e Maysa: Quando Fala o Coração (2009). Ela só foi promovida a autora titular, ainda sob a gestão de Abreu, quando assinou Os Dias Eram Assim (2017) com Alessandra Poggi.

A autora Angela Chaves, responsável pelo melodrama Pedaço de Mim (Foto: Divulgação/TV Globo)

Em suma, a Globo levou anos para formar uma autora titular, mas a colocou à disposição do mercado justamente em sua maturidade profissional. A Netflix já sabia desde o início que marcaria um “golaço” ao trazer a escritora para sua equipe.

Pedaço de Mim não só se tornou uma das produções mais vistas do catálogo na semana de sua estreia como ganhou elogios da concorrente –inclusive das bem-sucedidas Gloria Perez e Rosane Svartman.

Uma história original, com um ponto de vista pouco explorado na dramaturgia, curiosamente é o que mais faz falta à Globo –presa em remakes e sequências– hoje.

VITRINE DO CARIRI
Com Noticias da TV.

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