Como a eleição na Venezuela ‘estremeceu’ relação entre Lula e Maduro
- 27 de julho de 2024
O Brasil enviou o assessor especial da presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, para acompanhar as eleições na Venezuela, que serão realizadas neste domingo (28). O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por outro lado, desistiu de enviar dois representantes para acompanhar o pleito.
A medida foi tomada após o presidente Nicolás Maduro, candidato à reeleição, afirmar que as eleições no Brasil não são auditadas. Diante das declarações, o TSE reafirmou que as urnas eletrônicas são auditáveis e seguras e declarou que as falas de Maduro são falsas.
Para o especialista em relações internacionais Uriã Fancelli, os ataques de Maduro e a decisão do TSE reforçam a percepção internacional de que o processo eleitoral na Venezuela é pouco confiável e potencialmente fraudulento.
“A ausência de observadores eleitorais de credibilidade, como o próprio TSE e a União Europeia, pode aumentar as suspeitas de manipulação e abuso de poder por parte do governo de Maduro”, afirmou Uriã ao Band.com.br.
Para ele, a decisão não apenas enfraquece ainda mais a legitimidade das eleições venezuelanas, mas também coloca o Brasil em uma posição delicada, “já que precisa conciliar sua política externa com os princípios democráticos que o governo diz defender”.
“Essa situação complica a diplomacia brasileira, que precisa equilibrar sua posição de defesa da democracia e dos direitos humanos com a manutenção de relações diplomáticas na região”, declarou.
Mudança de posicionamento?
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que ficou “assustado” com as declarações de Nicolás Maduro – que chegou a dizer que o país pode enfrentar um “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso ele não seja reeleito. Na ocasião, o brasileiro afirmou que “Maduro precisa aprender que, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”.
Mesmo assim, Uriã Fancelli não acredita em mudança de posicionamento do governo brasileiro em relação ao regime, mas sim de uma “mudança de tom”.
“Essa mudança parece ainda muito branda e tímida. O governo brasileiro, que se elegeu com um discurso de defesa da democracia e que enfrentou uma tentativa fracassada de golpe de Estado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem a obrigação moral de se posicionar de maneira mais incisiva, condenando as ameaças de Maduro e as violações de direitos humanos cometidas pelo governo venezuelano”, afirmou o especialista em relações internacionais.
“As críticas de Lula não deveriam ser duras apenas em relação aos países ocidentais, mas também ser direcionadas a todos que violam os valores que ele afirma defender, pelo menos na teoria”, finalizou Uriã.