Ciro Nogueira quer punir institutos de pesquisa que ‘errarem feio’ nos resultados
- 3 de outubro de 2024
O presidente dos Progressistas, senador Ciro Nogueira (PP-PI), comentou as divergências apresentadas por diferentes institutos de pesquisa entre os levantamentos apresentados nas vésperas das eleições e o resultado das urnas. “Se a realidade é uma só, quem apresenta números divergentes é incompetente ou agiu de má fé”, frisou o político.
O parlamentar afirma que pediu a sua assessoria a elaboração de um projeto de lei que penalize institutos de pesquisa para que “sejam obrigados a divulgar na véspera da eleição uma última pesquisa e aqueles que forem muito diferentes dos constatados na urna, além da margem de erro, sejam penalizados”, destacou.
E completou: “Quem tentar manipular o processo eleitoral terá que arcar com as consequências”.
Para o senador, as eleições municipais evidenciaram ‘ainda mais’ o que ele considera “um grave problema”. “Depois que são desmentidos na urna inventam uma desculpa qualquer ou atribuem a uma súbita mudança de última hora como se o brasileiro decidisse só na urna em quem vai votar”.
Desconfiança
Os institutos de pesquisa em todo o mundo democrático ainda tentam se recuperar desde que a vitória de Hillary Clinton contra Donald Trump foi decretada, em 2016, antes mesmo da votação. A desconfiança disseminada pelo triunfo de Trump naquele ano, contra todos os prognósticos, ainda reverbera, mas as pesquisas eleitorais já estavam em questão desde a eleição de Barack Obama, em 2012.
A vitória de Obama sobre o favorito Mitt Romney levou o prestigioso instituto Gallup, por exemplo, a desistir de pesquisas de intenção de voto, tamanha a volatilidade das corridas eleitorais, afetadas pela disseminação difusa e ininterrupta de informações pelas redes sociais. A reeleição de Obama reforçou a relevância da internet para as campanhas eleitorais, já atestada pelo próprio democrata em 2008.
Diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo disse em entrevista que “o grande problema das pesquisas” está na forma como elas são divulgadas. “A pesquisa é um instrumento de informação, não deve ser um instrumento de marketing das campanhas”, disse, acrescentando que a forma como os levantamentos são divulgados pela imprensa colabora para isso.
Os próprios institutos, contudo, também ganham atenção e relevância por participar da corrida eleitoral dessa forma. E, apesar de seus representantes destacarem sempre que não fazem prognósticos ou previsões, eles se gabam dos resultados quando os números coincidem com a votação final. Isso também faz parte do jogo e do mercado de pesquisa de opinião, que vai bem além das eleições.
Métodos de pesquisa
Hidalgo destacou também que as pesquisas que mostram resultados divergentes são feitas com métodos diferentes. No último levantamento divulgado pela AtlasIntel, que coleta informações pela internet e foi atualizada em um espaço de tempo maior do que as do Datafolha e da Quaest, Marçal ainda segue em franca ascensão.
Pode ser que isso ocorra porque essa modalidade de consulta não é afetada pelo fenômeno do eleitor envergonhado, que se sente intimidado de dizer a um entrevistador que votará em um candidato considerado pouco sério e, por isso, mente sobre suas intenções.
A coleta virtual dos dados também costuma ser influenciada pelos eleitores mais engajados, que fazem questão de manifestar suas opiniões quando questionados enquanto navegam na internet. Além isso, essa modalidade só alcança eleitores com acesso à rede mundial de computadores, o que pode deixar de fora mais pobres e idosos.
Por outro lado, as pesquisas feitas em domicílio, como as da Quaest, não alcançam eleitores de condomínios ou de regiões de mais difícil acesso. Os responsáveis por esses levantamentos precisam adequar seus métodos de pesquisa a essas limitações.
Esse é o tipo de informação que se deve ponderar na hora de analisar os números. E é por conta dessa complexidade, para além da possibilidade de os institutos errarem na calibragem de seus métodos ou na coleta dos dados, que Hidalgo aconselha os eleitores a não mudar o voto por causa das pesquisas.
O melhor
O diretor do Paraná Pesquisas disse ainda em entrevista, que “a gente vai saber qual foi a [pesquisa] mais eficaz quando se comparar com o resultado das urnas”.
É possível que algum instituto tenha medido com mais precisão um ou outro movimento da campanha — e em um eleitorado específico, como os evangélicos ou os mais pobres —, o que é muito difícil de identificar e garantir, mas o resultado da eleição não terá o condão de premiá-lo por isso.
Hoje, com um celular em cada bolso, o eleitor pode ser influenciado no momento em que se dirige à urna. Uma pesquisa finalizada na véspera da votação não conseguirá captar esse voto. Quantos terão mudado ou de fato se definido apenas na última hora? E quantos eleitores vão se deixar influenciar pelas pesquisas e partir para o voto útil?
Tendência
A avaliação é feita atualmente pela tendência. Se o candidato X estava subindo em intenção de voto na última semana de campanha, é de se esperar que ele tenha mais votos do que o percentual indicado no último levantamento.
Há outras medidas relevantes, como o índice de certeza do voto e os níveis de rejeição de cada candidato, para além de questionamentos específicos sobre questões que podem afetar a eleição, como a satisfação com a economia, com a qualidade das calçadas ou com os atendimentos hospitalares.
Se houver mais de um instituto captando a mesma tendência e ela confirmar uma expectativa — como no caso do que se esperava da influência do horário eleitoral obrigatório em São Paulo —, a credibilidade dos números aumentará.
Torcida
Em disputas mais consolidadas, como as de Rio de Janeiro e Recife, onde os prefeitos Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB) devem se reeleger com folga, é bem mais fácil acertar.
Mas, apesar de algumas divergências nas pesquisas de São Paulo, todas apontam Nunes, Marçal e Boulos como os principais candidatos, e, levando em conta as margens de erro, que variam de dois a cinco pontos percentuais, a depender do recorte, todos estão mais ou menos na mesma faixa de votos.
Que um ou outro apareça à frente ou em terceiro lugar não quer dizer muita coisa a esta altura do campeonato. Ou melhor, os números dirão aquilo que os analistas interpretarem, mas também o que cada candidato afirmar na tentativa de convencer os eleitores em disputa.
Mas não há garantia de nada. Resta aos institutos publicar seus números e torcer.