Jornalista é demitida pela Record após fazer publi para pagar aplicação de botox

  • 4 de novembro de 2024

Repórter do Balanço Geral Manhã e do Cidade Alerta, Marcela Munhoz foi demitida pela Record em 22 de outubro, três dias antes de sair de férias. A justificativa dada pela emissora à profissional foi corte de custos, mas a reportagem apurou que o motivo real foi outro: a jornalista usou a logomarca da Record em uma publicidade no Instagram de uma clínica de estética na qual ela fez aplicação de botox.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a jornalista tinha o hábito de fazer publis (como são chamadas as publicações em redes sociais que promovem marcas, produtos e serviços) sem pedir autorização a seus superiores. O manual de conduta da Record não proíbe esse tipo de post, como acontece a Globo, desde que ele seja avaliado previamente para detectar eventuais danos à credibilidade do Jornalismo da emissora.

Marcela nega ter feito publis sem autorização. “Sobre a motivação do desligamento, não me disseram nada relacionado às redes sociais. A justificativa foi corte de gastos. Até porque toda publicação publi que eu fiz foi previamente informada à emissora”, disse.

A jornalista tem 185 mil seguidores no Instagram, o que a credencia como influenciadora. Em seu perfil, há vários posts supostamente pagos por empresas. Ela cita, por exemplo, perfis de cabeleireiros e maquiadores, marcas de roupas, bufê de festa infantil, parques temáticos e resort.

Em viagem com o marido, Darlisson Dutra (apresentador do Primeiro Impacto, do SBT), à região de Cancun (México), Marcela fez posts na semana passada agradecendo a uma agência de viagens e a um hotel e spa, indicando que teve despesas bancadas por essas empresas.

O post que gerou sua demissão na Record é claramente uma publi, patrocinada pela clínica Yahava, de Higienópolis (região central de São Paulo). Em texto, ela diz que o estabelecimento está “oferecendo preços imperdíveis e condições especiais pra você que ainda não começou a se cuidar!”.

No vídeo (veja abaixo), ela diz que a clínica é um daqueles “lugares em que a gente se sente acolhida de verdade”. Com imagens em que aparece gravando reportagens com o microfone da Record, justifica que “para manter o desempenho diário no trabalho, é preciso cuidar também da estética”. E conta que fez uma aplicação de botox que a deixou “sorrindo à toa”.

Segundo fontes na Record, a comunicadora vinha sendo observada por causa da grande quantidade de jabaculês, ou jabás, como a troca de serviços e produtos por publicidade também é conhecida no meio jornalístico. A gota d’água, contudo, foi ela ter usado imagens com o microfone da Record, vinculando a emissora à publicidade.

Marcela trabalhava na Record desde o início do ano passado. Apesar de ter sido dispensada três dias antes de sair de férias, o que não é ilegal, ela diz não guardar mágoas: “Eu não tenho o que reclamar da emissora. Sou muito grata ao período em que fiz parte da equipe e tive meu trabalho e profissionalismo valorizada”.

Na Globo, jabá gera demissão

O jabaculê digital é expressamente proibido na Globo desde 2017. Os Princípios Editoriais do Grupo Globo, documento que orienta a conduta dos profissionais da emissora, diz “que é imprescindível que o jornalista da Globo evite a percepção de que faz publicidade, mesmo que indiretamente, ao citar ou se associar a nome de hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc”.

No ano passado, a emissora demitiu a repórter Lívia Torres, do Rio de Janeiro, porque ela apresentou um evento da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e apareceu à frente de banners com marcas patrocinadoras da entidade.

A proibição surgiu após o casamento do jornalista Cesar Tralli com a apresentadora Ticiane Pinheiro, há sete anos. Na época, o então diretor-geral de Jornalismo, Ali Kamel, deu uma bronca geral e deixou claro que profissionais da notícia não poderiam marcar grifes nem fazer check-ins depois que o atual âncora do Jornal Hoje publicou fotos em que divulgou o nome do estilista que fez seu terno e decoradores da festa.

Tralli negou ter feito permuta e disse que seus posts foram gentilezas aos prestadores de serviços. “Não preciso, sei que não devo, e jamais faria qualquer tipo de postagem em rede social agradecendo seja quem fosse por conta de troca ou favorecimento”, declarou em 2017. “Eu paguei meu casamento”, acrescentou.

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