Figurantes do primeiro filme ‘O Auto da Compadecida’ relatam histórias com elenco: ‘Todo mundo se misturava’

  • 26 de dezembro de 2024

Estreou nesta quarta-feira (25) a sequência do filme “O Auto da Compadecida“, inspirado no texto do paraibano Ariano Suassuna. O primeiro filme, clássico do cinema nacional, foi gravado em Cabaceiras, no Cariri paraibano, e contou com a participação de vários moradores que foram figurantes da obra. 

As gravações da primeira versão do “Auto da Compadecida” aconteceram no ano de 1998. Na época, atores como Matheus Nachtergaele e Selton Mello, que interpretaram João Grilo e Chicó, passaram a conviver com os moradores de Cabaceiras, que ao longo dos anos recebeu diversas outras produções cinematográficas e ficou conhecida nacionalmente como a “Roliúde Nordestina“. 

A convivência com o elenco do clássico do cinema nacional está na memória de muita gente. Inclusive, várias pessoas foram convidadas e aceitaram ser figurantes do filme. 

Iraci com os cangaceiros nas gravações do Auto da Compadecida — Foto: Arquivo Pessoal

Iraci com os cangaceiros nas gravações do Auto da Compadecida — Foto: Arquivo Pessoal 

É o caso de dona Iraci Soares, agricultora de 70 anos. Na época, ela foi figurante do filme e apareceu em diversas cenas, como no cortejo de João Grilo e em algumas outras imagens que a mostraram varrendo a rua e carregando baldes de água. 

A reportagem, dona Iraci relatou que foi convidada por uma profissional da produção do longa, com quem mantém contato até hoje. Ela fez a inscrição para participar do filme e foi chamada para ser figurante. 

“Tenho lembranças de conviver com Matheus, Denise, Diogo Vilela, Selton Mello, Rogério Cardoso que foi me acompanhando, ele era o padre”, disse. 

Iraci também lembra de alguns momentos de bastidores, como o dia em que foi junto com Selton Mello e Matheus Nachtergaele cavar a cova do personagem João Grilo. 

“Eu, Selton e Matheus fomos cavar uma cova. Eles me colocaram lá em um cantinho, uma abelha me mordeu e eles me colocaram em outro canto. Aquela foi a cova que João Grilo foi enterrado”, relatou.

Outra figurante foi Maria Edite, que também tem 70 anos e é moradora de Cabaceiras. Ela recorda com carinho as gravações do filme, e relata que a vida mudou depois de participar de “O Auto da Compadecida”. 

“Foi uma experiência muito boa, porque através do ‘Auto’ já participei de vários outros filmes”, disse Maria. 

Ela é vista no filme admirando João Grilo e Chicó em uma cena em que eles seguram um cartaz, e também foi figurante em outras cenas emblemáticas, como na missa de casamento de Rosinha e no enterro da cachorra, em latim. 

Agora, Maria espera ansiosa pela estreia do filme “O Auto da Compadecida 2”. Apesar de lamentar o fato da sequência não ter sido gravada em solo paraibano, ela e as várias pessoas que participaram da primeira versão do filme desejam sucesso de bilheteria. 

Paulo Sergio como figurante no Auto da Compadecida, em 1998 — Foto: Arquivo Pessoal

Paulo Sergio como figurante no Auto da Compadecida, em 1998 — Foto: Arquivo Pessoal 

Atual assessor especial de Cultura e Turismo de Cabaceiras, o historiador e poeta Paulo Sérgio Guimarães também se divertiu com o elenco do Auto da Compadecida, em 1998. Hoje com 60 anos de idade, Paulo recorda com carinho os momentos viveu na época. 

“As lembranças que tenho da convivência com os atores são boas demais. Se misturava todo mundo, geralmente depois das filmagens. Guel (diretor do filme) costumava dizer que o povo de Cabaceiras era diferente, porque a gente não tinha aquela ‘tietagem’, e isso é natural, cultural nosso. Então ficava todo mundo junto”, relata Paulo.

Ele também atuou como figurante na produção, através de um convite feito pelo então diretor da Secretaria de Cultura de Cabaceiras, o também historiador e hoje guia de turismo na região Paulo Noberto de Castro. 

“A experiência que tive na condição de figurante foi muito gratificante (… ) Epara a história e cultura de Cabaceiras [o Auto] é um divisor de águas. Uma cidade pequena, gravada no Cariri oriental da Paraíba, antes de 1998, como qualquer cidade interiorana era esquecida pelos próprios poderes políticos. Quando vem a Rede Globo com todo aparato para filmar o ‘Auto’, Cabaceiras ganha vida”, afirma.

O historiador também reitera que depois das gravações, Cabaceiras despontou não apenas no mercado cinematográfico, mas também cravou o nome entre as atrações turísticas do interior brasileiro. Como consequência, a vida dos moradores da região também mudou. 

“Costumes religiosos e culturais mudaram. Aprendemos muito de TV, de cinema… Cabaceiras despontou para a mídia nacional e internacional. Ganhamos uma nova roupagem histórica e despontamos no turismo. Nós agradecemos muito a oportunidade que tivemos, em cima da obra de Ariano Suassuna, Guel Arraes fez um trabalho muito bonito. Tudo isso só nos trouxe benefício, progresso, desenvolvimento”, disse. 

Paulo e Virgínia Cavendish durante gravações do Auto da Compadecida em Cabaceiras, Paraíba — Foto: Arquivo Pessoal

Paulo e Virgínia Cavendish durante gravações do Auto da Compadecida em Cabaceiras, Paraíba — Foto: Arquivo Pessoal 

Paulo também vive a expectativa pelo novo filme, que estreia nesta quarta (25) nos cinemas de todo o Brasil. Assim como milhares de brasileiros, em especial os nordestinos, apaixonados pela obra de Ariano Suassuna, o historiador espera que a obra exalte e cultura da região e dê ainda mais brilho ao legado de um dos grandes pensadores do país. 

“Eu costumo dizer que o que vem depois nunca será como o primeiro, em tudo na vida. Mas acredito que [o Auto da Compadecida] fará sucesso sim! Porque vem na obra de Ariano, e o nome por si só tem peso. Então vamos torcer pra ser um sucesso!”, finalizou.

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