Edmundo González deixa Venezuela após pedir asilo político na Espanha
- 8 de setembro de 2024
Edmundo González, candidato da oposição venezuelana que concorreu contra o presidente Nicolás Maduro na eleição realizada em julho deixou o país após pedir asilo político na Espanha. O político de 75 anos era alvo de um mandado de prisão pedido pelo Ministério Público e aceito pela Justiça da Venezuela, ambos alinhados ao regime.
A informação foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares. “Edmundo González, a seu próprio pedido, voou para a Espanha em um avião da força aérea espanhola”, afirmou o espanhol, dizendo ainda que o “governo da Espanha está comprometido com os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos”.
De acordo com a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, González teria saído do país com o aval do governo Maduro. Ela afirmou que, “após os contatos entre os dois governos e o cumprimento dos trâmites legais, a Venezuela concedeu os salvo-condutos necessários para garantir a tranquilidade e a paz política no país”.
Ela disse ainda que o rival de Maduro no último pleito estava refugiado na embaixada da Espanha em Caracas, capital venezuelana, “há vários dias”. A Justiça venezuelana aceitou o pedido do MP no último dia 2. A ordem ocorreu após González faltar a três convocações de depoimento.
O político, que é ex-diplomata, se tornou candidato de última hora após o regime de Maduro impedir que a líder da oposição, María Corina Machado, disputasse a eleição. Embora o atual presidente tenha sido declarado vencedor da votação pela Justiça Eleitoral do país, alinhada ao governo, muitos países não reconheceram sua vitória e exigem a publicação das atas de votação, caso do Brasil.
Crise na relação Brasil x Venezuela
O Ministério de Relações Exteriores emitiu neste sábado, 7, uma nota na qual diz ter “recebido com surpresa” a decisão do governo da Venezuela de suspender a custódia do Brasil sobre a Embaixada da Argentina em Caracas, capital venezuelana. No texto, o Itamaraty informou ainda que permanecerá com a custódia.
“O Brasil permanecerá com a custódia e a defesa dos interesses dos argentinos até que o governo argentino indique outro Estado aceitável para o governo venezuelano para exercer as referidas funções”, diz a nota. “O governo brasileiro ressalta a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina, que atualmente abrigam seis asilados venezuelanos, até de bens e arquivos.”
Trata-se de mais um episódio que agrava a situação das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela. O contato entre os governos ficou estremecido após o presidente Lula não reconhecer diretamente a contestada vitória de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas deste ano – um histórico aliado do petista na América Latina.
“O governo brasileiro recebeu com surpresa a comunicação do governo venezuelano de que tenciona revogar o seu consentimento para que o Brasil proteja os interesses da Argentina na Venezuela”, diz outro trecho da nota divulgada pelo Itamaraty neste sábado.
No mês passado, Madurou decretou o fechamento da representação diplomática da Argentina na Venezuela e ordenou a expulsão de todos os diplomatas do país. Desde então, a pedido do governo argentino, o Brasil assumiu temporariamente a representação diplomática da Argentina na Venezuela. O governo Maduro também expulsou missões diplomáticas do Chile, da Costa Rica, do Panamá, da República Dominicana e do Uruguai.
“A República Bolivariana da Venezuela tomou a decisão de revogar de maneira imediata a aprovação concedida pelo governo da República Federativa do Brasil para exercer a representação dos interesses da República Argentina e de seus nacionais em território venezuelano”, diz um dos trechos da decisão de Nicolás Maduro.
Missões de um país dentro de um outro – como embaixadas ou consulados – são considerados invioláveis, de acordo com a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, datada de 1961.