Ex-ator da Globo escancara os desafios impostos pelo etarismo: ‘Longo caminho’

  • 30 de setembro de 2024

Intérprete de Popô na novela Amor Perfeito (2023), Mestre Ivamar tem 66 anos e uma longa carreira como ator, escritor e pesquisador. Ativista desde os anos 1970, ele traz consigo uma intensa bagagem de suas vivências na periferia de São Paulo e dos anos em que morou em Angola. Seu grande objetivo é propagar a arte e a história do povo negro por onde passar –não importa com que idade esteja.

Atualmente à frente do Coletivo Amazonizando, Mestre Ivamar cresceu assistindo a negros e idosos sendo retratados de maneira caricata na TV. Um grande desafio era atravessar o estereótipo –durante muito tempo, não havia oportunidade para essas pessoas de se debruçarem na arte sem serem colocadas para interpretar personagens pejorativos. 

Ele celebra que a sociedade evoluiu para que pudesse ser cada vez mais inclusiva. “A televisão trazia atuações de pessoas com mais de 60 anos e negros de forma muito pejorativa. Então, são fundamentais esses avanços que têm ocorrido na dramaturgia. É fruto de muita luta, muito trabalho”, declara em entrevista.

Ele até vê seu papel em Amor Perfeito (2023) e o de outros idosos que participaram da novela como um divisor de águas. “Tinha diversidade. Para a sociedade, foi muito interessante. As pessoas me abordavam, pessoas negras com mais de 60 anos se sentiam até curadas”, destaca.

“Porque se ver na TV de uma forma diferente, carinhosa, respeitosa, com um homem negro de 60 anos que namora, que tem um processo importante, isso cura ter se assistido por anos e anos em papéis pejorativos”, acrescenta.

No entanto, para o ator, ainda há algumas pedras das quais precisa desviar. “Eu acho que temos um longo caminho a percorrer. Mas essas iniciativas [como a novela], que são de uma sensibilidade muito grande, vêm crescendo e sendo discutidas”, afirma.

“A cada década, a história muda. O preconceito, a invisibilidade, tudo isso vai tomando outras formas. Questões vão sendo compreendidas. Hoje em dia, a gente discute a questão da mulher, a questão do LGBTQIA+, do indígena. Acho que estamos mais abertos, e vale ter esperança”, finaliza.

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