Globo denuncia empresa que vendia eventos de jornalistas sem autorização

  • 21 de julho de 2023

A empresa Dialethos oferecia jornalistas da Globo para eventos sem autorização dos profissionais. A denúncia é da Globo. Em seu site, a Dialethos vendia Sandra Annenberg, Ana Paula Araújo, Heraldo Pereira, Nelson Araújo e vários outros âncoras como apresentadores de eventos, o que nem sempre é permitido pela emissora. A empresa, que tirou os anúncios do ar, não se manifestou.

Segundo a Dialethos, André Trigueiro comandaria talk shows corporativos, e Leilane Neubarth e Ana Luiza Guimarães topariam até fazer presença VIP. Dezenas de outros jornalistas também eram vendidos como palestrantes e mestres de cerimônias.

De acordo com a Globo, no entanto, muitos de seus profissionais sequer sabiam que estavam sendo expostos pela empresa. A emissora tomou conhecimento desse “catálogo” de talentos após a publicação, na quarta-feira (19), que criticava a demissão da repórter Lívia Torres por ela ter apresentado um evento da CFB (Confederação Brasileira de Futebol) sem permissão da emissora.

“A Globo informa que os jornalistas listados na matéria associados à empresa agenciadora de palestras nunca autorizaram o uso de seus nomes no catálogo da empresa e nunca se beneficiaram disso”, informou a Comunicação da Globo em nota enviada na quinta (20).

Após a publicação do texto, a Dialethos excluiu de seu site todos os nomes de jornalistas da Globo –inclusive aqueles que, em tese, não desrespeitariam normas da emissora porque só se dispunham a fazer palestras dentro das regras impostas.

Suspeita-se que a empresa, ao ser consultada por eventual interessado em algum jornalista da Globo, respondia que o profissional não tinha agenda disponível e então oferecia outro nome realmente agenciado por ela.
Empresa vende até palestra de Gloria Maria

Anúncio de palestra de Gloria Maria (Reprodução)

A participação de jornalistas em eventos corporativos não é proibida pela Globo, desde que não haja vinculação a marcas nem transmissão por TV ou streaming, porque isso compromete a isenção do profissional e desrespeita o direito de imagem que pertence à emissora.

Palestras são liberadas para apresentadores e repórteres da área esportiva. Mas a atuação como apresentador de evento ou talk show carece de análise e autorização da Globo. Presença VIP é algo que jornalistas não costumam fazer.

Vários sites oferecem jornalistas da Globo para eventos, mas apenas como palestrantes. São os casos, por exemplo, de Bárbara Coelho, Carol Barcellos, Caco Barcellos, Gerson Camarotti, Clayton Conservani e Natuza Nery, entre outros.

A empresa Palestras de Sucesso sugere até “Gloria Maria (in memoriam)” –assim mesmo, com “in memoriam” parênteses. O texto bizarro diz que Gloria “consegue abordar temas pesados, de um jeito leve, por mais sérios que sejam” e que ela é “um fenômeno no mundo das palestras”. Seguramente, foi escrito antes da morte da jornalista, em fevereiro. E o anúncio deve ter sido mantido como uma homenagem.

A Globo tem desde 2011 um documento, chamado Princípios Editoriais do Grupo Globo, que orienta a conduta de jornalistas. Eles não podem, por exemplo, citar ou curtir posts de empresas em redes sociais ou manifestar preferência partidária ou por clube de futebol. Devem evitar até opinar sobre política em grupos de WhatsApp, porque isso pode vazar.

A preocupação da emissora é a de que a conduta de seus profissionais manche a reputação de seu jornalismo. No caso de Lívia Torres, ela foi demitida porque participou, sem autorização, de um evento transmitido pelo YouTube e pelo SporTV em que apareceu ao lado de marcas patrocinadoras da Copa do Brasil.

A demissão foi um exagero e serviu para dar exemplo para outros repórteres. Foi uma hipocrisia porque a Globo vinha tolerando ou ignorando que jornalistas recebessem para participar de atividades externas, inclusive da CBF, e trata repórteres do departamento de Esporte (podem fazer eventos e até publicidade) diferentemente dos jornalistas do departamento de Jornalismo (não podem).

Alguns profissionais da emissora, como Flávio Fachel e Silvana Ramiro, faziam até media training e gerenciamento de crises, o que conflita totalmente com a atividade de jornalista de empresa de mídia.
Outro lado: Empresa não se manifesta
A reportagem procurou a Dialethos Eventos para publicar sua versão dos fatos. Por WhatsApp, uma das sócias da empresa respondeu à reportagem. Foram dadas duas horas para que ela se manifestasse sobre a denúncia da Globo, mas isso não ocorreu até a publicação deste texto.

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